Vidas Secas
Por Fernando Marcílio
Mestre em Teoria Literária pela Unicamp
RESUMO
Quando a
narrativa começa, Fabiano e sua família, formada pela esposa Sinha Vitória, os
filhos identificados apenas como Menino mais novo e Menino mais velho e a
cachorrinha Baleia, caminham sob o escaldante sol do nordeste. Encontram uma
casa abandonada e ali se abrigam, na expectativa da passagem do período de
seca.
A chuva
chega, e com ela aparece o patrão, dono da terra, expulsando Fabiano do lugar.
Para continuar na terra, o matuto se oferece para trabalhar como vaqueiro.
Recebe roupas, animais de criação e alguns produtos para iniciar o serviço,
instalando-se em definitivo na fazenda.
Os
produtos consumidos pela família eram oferecidos no armazém do patrão, mas a
preços abusivos. Por isso, Fabiano resolve ir comprar algumas coisas na cidade
mais próxima. Um militar, o Soldado Amarelo, o convida para jogar baralho. Os
dois se dão mal no jogo e o policial desconta em Fabiano, prendendo-o. Ao
voltar para casa, encara o mau humor de Sinha Vitória, inconformada com sua
atitude.
A família
conhece alguns momentos de alegria e de felicidade limitada. Isso se dá, por
exemplo, quando o inverno chega trazendo a chuva. No entanto, a ameaça da cheia
causa apreensão em Sinha Vitória. Também se dirigem à cidade para uma ocasião
festiva, mas não se sentem à vontade ali. A revolta que Fabiano sente no lugar
se repete em outros momentos, mas ele sempre se vê diante da necessidade de
conter sua fúria.
Quando
desconfia de erros no seu pagamento, por exemplo, reclama com o patrão em
termos que provocam sua demissão. Arrepende-se das coisas ditas, pede desculpas
e recupera sua colocação. Em outro momento, reencontra o Soldado Amarelo, que
se perdera no campo, e vê a oportunidade de vingar-se da prisão injusta. No
entanto, acaba por reconhecer no policial uma autoridade que deve ser
respeitada e mais uma vez contém sua revolta.
As aves
de arribação que cortam os céus em certa ocasião funcionam como prenúncios da
seca, que está de volta. A família se prepara para nova fuga. Fazem-no de
madrugada, tanto para aproveitar a temperatura mais amena, quanto para escapar
de uma eventual perseguição do patrão.
Assim, terminam sua história exatamente como a
haviam começado: fugindo da seca.
CONTEXTO
Sobre o
autor
Graciliano Ramos é o principal ficcionista da literatura brasileira da década de 1930, que se caracterizou pela temática social, focalizando, entre outros, aspectos concernentes ao Nordeste brasileiro, como a seca, o coronelismo e a exploração. Essa tendência recebeu o nome de neorealismo nordestino. Ao mesmo tempo, os autores da época continuaram a proposta modernista de uma literatura de resgate da linguagem coloquial.
Graciliano Ramos é o principal ficcionista da literatura brasileira da década de 1930, que se caracterizou pela temática social, focalizando, entre outros, aspectos concernentes ao Nordeste brasileiro, como a seca, o coronelismo e a exploração. Essa tendência recebeu o nome de neorealismo nordestino. Ao mesmo tempo, os autores da época continuaram a proposta modernista de uma literatura de resgate da linguagem coloquial.
Importância
do livro
O romance Vidas Secas, publicado em 1938, consegue a proeza de apresentar de maneira sintética uma visão da sociedade brasileira em seus níveis mais profundos. Há a dimensão social da exploração e da opressão política. Há a dimensão psicológica da repressão, fazendo surgir indivíduos marcados pela introspecção. E há, por fim, a dimensão natural da seca, flagelo nordestino.
O romance Vidas Secas, publicado em 1938, consegue a proeza de apresentar de maneira sintética uma visão da sociedade brasileira em seus níveis mais profundos. Há a dimensão social da exploração e da opressão política. Há a dimensão psicológica da repressão, fazendo surgir indivíduos marcados pela introspecção. E há, por fim, a dimensão natural da seca, flagelo nordestino.
Período
A narrativa se relaciona a um período particularmente complicado da política brasileira e mundial. No Brasil, estava em vigor a ditadura Vargas, enquanto a Europa vivia as tensões que resultariam na eclosão da 2ª Guerra Mundial.
A narrativa se relaciona a um período particularmente complicado da política brasileira e mundial. No Brasil, estava em vigor a ditadura Vargas, enquanto a Europa vivia as tensões que resultariam na eclosão da 2ª Guerra Mundial.
ANÁLISE
O título
do romance de Graciliano antecipa alguns de seus aspectos essenciais. De fato,
“vidas” remete aos indivíduos cujas existências serão focalizadas na narrativa,
“secas” tanto aponta para a condição natural quanto para a falta de perspectiva
das personagens. O narrador em 3ª pessoa explora o monólogo interior para expor
ao leitor os pensamentos das personagens que, de outra forma, não se abrem para
o mundo.
Esse
isolamento dos membros da família é reproduzido na própria estrutura do
romance, que é dividido em capítulos relativamente independentes. Alguns deles
trazem em seus títulos os nomes das personagens, que são, então, apresentadas
de forma mais aprofundada.
Dessa
forma, a narrativa apresenta os desejos mais íntimos de Fabiano e de sua
família. O vaqueiro gostaria de ter mais desenvolvida a faculdade de expressão
para se comunicar com os outros. Sinha Vitória almeja uma cama de couro,
símbolo de certa abastança e de fim da vida nômade. O Menino mais novo deseja
ser igual ao pai, enquanto seu irmão se vê às voltas com os mistérios das
palavras. Também a cachorra Baleia merece seu capítulo, aquele que narra sua
morte, momento em que ela pensa em um mundo de comida abundante que acabasse
com a carência da família.
Os
capítulos independentes mostram ainda a dificuldade de comunicação das
personagens, sobreviventes que pouco se abrem a expansões sentimentais. Para
reproduzir na linguagem a mesma secura, o narrador utiliza poucos adjetivos.
As festas
e os períodos de chuva mantém a apreensão sofrida de todos, demonstrando que,
se a seca é um problema, não é o único. Essa circunstância sugere que Fabiano e
sua família, mais do que oprimidos pelo meio ambiente, são colocados como
vítimas de mecanismos sociais opressivos, representados pelo patrão e pelo
Soldado Amarelo.
Ao longo de toda a narrativa, Fabiano oscila entre
a condição de homem e a de animal. No final, quando mantém a capacidade de
sonhar, imaginando uma vida melhor no futuro, parece demonstrar que o que há
nele de humano supera a tendência à animalização que a opressão insiste em lhe
impor.
PERSONAGENS
-
Fabiano: nordestino retirante, é explorado pelo patrão e tenta sempre conter a
raiva para não perder o emprego.
- Baleia:
cachorra da família, é muito querida pelas crianças. Pensa como gente e sofre
com as dificuldades da seca e da falta de comida.
- Sinha
Vitória: esposa de Fabiano, tenta evitar que o marido caia nas mentiras dos
trapaceiros. É esperta e sabe fazer contas.
- Menino
mais velho e Menino mais Novo: filhos do casal, não são identificados com
nomes. O mais novo admira o pai e o mais velho tem interesse pelas palavras,
procurando ficar mais próximo da mãe.
- Tomás
da Bolandeira: amigo de Fabiano, aparece apenas em suas lembranças.
- Patrão:
dono da fazenda onde Fabiano se instala com sua família, é desonesto e explora
os funcionários.
- Soldado Amarelo: militar que convida Fabiano para
jogar cartas e acaba prendendo o vaqueiro.
Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/vidas-secas.html
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